segunda-feira, 16 de setembro de 2024

O Caminhãozinho Vermelho

Paulo Werneck

Este caso ocorreu há mais de 60 anos no consultório do famoso médico foniatra, dr. Pedro Bloch, também jornalista, compositor, poeta, dramaturgo, o que não vem ao caso. O que nos interessa é o que se passou em uma consulta específica.

A mãe, após levar o filho, que não falava, a diversos pediatras, os quais não encontraram nenhuma razão fisiológica para tal, acabou apelando para o acima citado doutor, ao que parece na época considerado uma sumidade.

Segundo o relato da mãe, ela entrou no consultório, acompanhada do petiz, deu os bons dias, dirigiu-se para uma das cadeiras dispostas à frente da escrivaninha do clínico e chamou o garoto para sentar-se na cadeira vizinha. Era uma época em que as mães gostavam de ter seus filhos comportados, olhando com os olhos, sem fazer estrepolias.

O terapeuta, entretanto, todavia, contudo, disse que deixasse o menino à vontade, abriu uma grande gaveta lateral da escrivaninha, lotada de brinquedos, e pediu à mãe que espusesse o problema.

Entretanto o guri, atraído pelos interessantes objetos que se amontoavam na gaveta, ficou lá parado, sem mexer em nada, claro, mas também sem se afastar daquele tesouro.

Médico e mãe conversando, de repente o médico pargunta ao paciente:

- Qual você quer?

Imediatamente o pirralho responde:

- O caminhãozinho vermelho.

A mãe, assombrada. O médico, impávido:

- Sua mãe trouxe você dizendo que você não fala. Porque você fica calado em casa?

Resposta, na lata:

- Porque não tenho nada para dizer.

O doutor Pedro Bloch publicou vários livros, como “Criança diz cada uma”, mas não sei se registrou este caso para a posteridade. Se não o fez, faço-o agora.